A necessidade e influĂȘncia da diplomacia ambiental brasileira
- Henrique Jesus dos Santos
- 3 de set. de 2024
- 5 min de leitura
Henrique de Jesus dos Santos
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Diante da urgĂȘncia climĂĄtica global, a diplomacia se destaca como uma das principais ferramentas para gerenciar e interpretar a realidade atual, tanto no cenĂĄrio polĂtico interno quanto externo. Nesse contexto, surgem questionamentos sobre o papel do Brasil na polĂtica externa ambiental, destacando-o como uma nação fundamental nas discussĂ”es globais. Ă essencial entender quais sĂŁo os pilares da diplomacia brasileira e identificar os fatores que tĂȘm atrasado o progresso da polĂtica ambiental no paĂs. Com sua vasta dimensĂŁo territorial, populacional e econĂŽmica, o Brasil se posiciona naturalmente como um interlocutor-chave nas grandes questĂ”es ambientais que desafiam a humanidade (Balbino, 2023).
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O meio ambiente passou a integrar as discussĂ”es transnacionais quando eventos climĂĄticos extremos deixaram de ser vistos como meros fenĂŽmenos naturais. A preservação ambiental ganhou destaque devido a catĂĄstrofes, Ă perda significativa de flora e fauna, e Ă s previsĂ”es de prejuĂzos imensurĂĄveis. No entanto, apesar desses fatores alarmantes, muitos paĂses permanecem resistentes a uma mudança de abordagem em direção a soluçÔes sustentĂĄveis (Tassara, 2018). Isso se deve, em grande parte, ao fato de que muitas açÔes prejudiciais ao meio ambiente tendem a ser altamente lucrativas, especialmente no que diz respeito ao desenvolvimento econĂŽmico e ao crescimento populacional dos estados. A tradicional visĂŁo de gerenciamento estatal, focada no crescimento a curto prazo, frequentemente coloca as consideraçÔes ambientais em segundo plano, criando um dilema entre a preservação do meio ambiente e a busca pelo progresso econĂŽmico (Tassara, 2018).
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Nas conferĂȘncias e comissĂ”es internacionais dedicadas Ă s mudanças climĂĄticas, hĂĄ um esforço ostensivo para formular soluçÔes eficazes que atribuam aos paĂses deveres e responsabilidades, alĂ©m de criar um espaço para debater estratĂ©gias para enfrentar os desafios futuros. No entanto, nos bastidores desses encontros, os jogos de interesse predominam, resultando em resoluçÔes que muitas vezes nĂŁo conduzem a avanços significativos. Nesse contexto, o Brasil ocupa uma posição de destaque, nĂŁo apenas pela forma como foi inserido nessas discussĂ”es, mas tambĂ©m pela maneira como tem historicamente atuado. As pautas de desenvolvimento, educação e preservação ambiental sĂŁo ĂĄreas nas quais o Brasil possui um domĂnio reconhecido, o que torna sua voz essencial nas negociaçÔes internacionais. A participação brasileira Ă© vista como crucial para o alcance das metas prĂ©-estabelecidas, tanto por sua capacidade de influenciar debates quanto por seu papel como um dos maiores detentores de biodiversidade e recursos naturais do mundo (Nascimento, 2011).
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Contudo, essa posição de destaque tambĂ©m traz desafios, exigindo que o paĂs equilibre suas necessidades internas de desenvolvimento socioeconĂŽmico com as demandas externas por sustentabilidade e preservação ambiental (Bezerra, 2013). Assim, o Brasil nĂŁo apenas participa, mas se vĂȘ na responsabilidade de liderar discussĂ”es que moldam o futuro das polĂticas ambientais globais, sendo muitas vezes um dos paĂses cujas açÔes sĂŁo fundamentais para o sucesso ou fracasso das metas climĂĄticas internacionais.
Assim, o cenĂĄrio atual reflete a tentativa de diversos paĂses de estabelecer uma ânova ordem internacionalâ, colocando a preservação ambiental como um dos temas centrais. Nessa realidade, os paĂses do norte global se encontram em uma espĂ©cie de corrida pela sustentabilidade, perpetuando, no entanto, o mesmo ciclo exploratĂłrio de sempre, agora sob o rĂłtulo de capitalismo verde. Apesar de tentarem projetar uma imagem de ação coletiva, os planos internacionais desde o inĂcio das discussĂ”es sobre o tema falham em formular negociaçÔes verdadeiramente igualitĂĄrias. Isso ocorre porque um nĂșmero significativo de paĂses enfrenta limitaçÔes tanto em suas capacidades de atuação quanto em suas possibilidades, em decorrĂȘncia de desafios tanto atuais quanto histĂłricos (Tassara, 2018). Dessa forma, o foco retorna aos paĂses que, por nĂŁo conseguirem contribuir para essa transição sustentĂĄvel, sĂŁo vistos como negligentes em relação Ă s mudanças climĂĄticas. O problema nĂŁo reside no fato de nĂŁo se sentirem compelidos a adotar uma âmudança de abordagemâ, mas sim na falta de condiçÔes e meios para desempenhar esse papel, apesar de suas necessidades de desenvolvimento socioeconĂŽmico e infraestrutural.
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Assim, a solução dos problemas ambientais, sendo um dos itens mais relevantes da agenda internacional, exigirĂĄ uma dinĂąmica de cooperação internacional muito mais efetiva do que a praticada nos dias de hoje. Com efeito, o Brasil lidaria muito melhor com os constrangimentos internacionais se adotasse posição de lĂder global de um processo de cooperação, assumindo plenamente a sua condição de potĂȘncia ambiental singularidade oriunda de sua economia de baixo carbono, de suas reservas incomparĂĄveis de ĂĄgua doce, de sua biodiversidade e de suas terras agricultĂĄveis (Nascimento, 2011, pp. 39)
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O Brasil nĂŁo apenas tem uma capacidade de diĂĄlogo com uma ampla gama de influĂȘncias, mas tambĂ©m possui uma longa histĂłria na pauta ambiental. No entanto, o paĂs sĂł começou a se envolver mais profundamente nas questĂ”es de preservação da biodiversidade por volta do sĂ©culo XX. Desde os primĂłrdios da nação, os interesses relacionados Ă flora local estavam mais ligados a questĂ”es de segurança e soberania, com a preservação ambiental raramente sendo prioridade. Em vez disso, o meio ambiente foi historicamente visto como uma ferramenta para ganhos econĂŽmicos, refletindo uma visĂŁo onde a exploração dos recursos naturais era central para o desenvolvimento do paĂs (Tassara, 2018).
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Os impactos da ação humana sobre o meio ambiente, trazem como consequĂȘncia o comprometimento da qualidade de vida, configurando um problema de Ăąmbito global que gera preocupaçÔes cada vez maiores e envolve todas as esferas da sociedade. A questĂŁo ambiental tem ganhado mais importĂąncia nas Ășltimas dĂ©cadas, tendo se tornado historicamente relevante a partir do sĂ©culo XX, quando a humanidade tomou consciĂȘncia de que a vida no planeta depende de um equilĂbrio ecolĂłgico. A sociedade industrial moderna interfere nesse equilĂbrio ambiental, comprometendo os recursos naturais que sĂŁo necessĂĄrios para a vida. (SANTOS, 2016, p. 51).
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O Brasil conta com polĂticas externas ambientais, mas essas sĂŁo, em grande parte, fundamentadas em abordagens tradicionalistas que carecem de atualização e reforma. Com a formação de uma nova ordem internacional, paĂses que nĂŁo dispĂ”em de uma polĂtica ambiental externa robusta e bem estruturada enfrentarĂŁo desafios crescentes e precisarĂŁo, urgentemente, desenvolver suas capacidades nessa ĂĄrea (Santos, 2016). A participação ativa em fĂłruns internacionais e a cooperação multilateral estĂŁo se tornando cada vez mais cruciais, nĂŁo apenas para a construção de novas polĂticas e mecanismos de negociação, mas tambĂ©m para garantir que vozes essenciais sejam ouvidas e integradas nas decisĂ”es globais (Tassara, 2018). Em um cenĂĄrio onde a sustentabilidade e a preservação ambiental sĂŁo questĂ”es centrais, a habilidade de um paĂs em articular e implementar polĂticas ambientais inovadoras serĂĄ determinante para seu posicionamento e influĂȘncia no cenĂĄrio internacional. Portanto, para o Brasil, a modernização de suas polĂticas externas ambientais Ă© fundamental para que possa desempenhar um papel de liderança e participar efetivamente das decisĂ”es que moldarĂŁo o futuro do planeta.
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ReferĂȘncias
NASCIMENTO, Paulo Roberto Laraburu. O meio ambiente e os fundamentos orientadores da polĂtica externa ambiental brasileira. 2011. DisponĂvel em: https://www.bdm.unb.br/bitstream/10483/2000/1/2011_PauloRobertoLaraburuNascimento.pdf. Acesso em: 20 de julho de 2024.
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Balbino, Viviane Rios. Sobre diplomacia. Sapientia, edição 45. 2023.DisponĂvel em: https://www.cursosapientia.com.br/conteudo/revista-sapientia/ler/edicao-45. Acesso em: 20 de julho de 2024.
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Tassara, Leandro Lima. A PolĂtica Externa Ambiental Brasileira no Contexto das ConferĂȘncias da ONU: Continuidades e Avanços. 2018. DisponĂvel em: https://repositorio.ufu.br/bitstream/123456789/22287/1/Pol%c3%adticaExternaAmbiental.pdf. Acesso em: 20 de julho de 2024.
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VIOLA. Eduardo. O regime Internacional de Mudança ClimĂĄtica e o Brasil. Revista Brasileira de CiĂȘncias Sociais, Vol. 17, n.50, p. 25-46. out. 2002
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SANTOS, JoĂŁo VinĂcius dos. ConferĂȘncias de Desenvolvimento SustentĂĄvel: de Estocolmo Ă COP 20 e o Papel do Brasil.Rev. EletrĂŽnica de Direito Internacional, Ed. Esp. Meio Ambiente, ISSN 1981-9439, vol.18, 2016, p.50-75.
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BEZERRA, Joana Carlos. O papel do meio ambiente na polĂtica externa brasileira. 2013. DisponĂvel em: https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/ideias/article/view/8649401/15956. Acesso em: 19 ago. 2024.
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