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A necessidade e influĂȘncia da diplomacia ambiental brasileira

Henrique de Jesus dos Santos

 

Diante da urgĂȘncia climĂĄtica global, a diplomacia se destaca como uma das principais ferramentas para gerenciar e interpretar a realidade atual, tanto no cenĂĄrio polĂ­tico interno quanto externo. Nesse contexto, surgem questionamentos sobre o papel do Brasil na polĂ­tica externa ambiental, destacando-o como uma nação fundamental nas discussĂ”es globais. É essencial entender quais sĂŁo os pilares da diplomacia brasileira e identificar os fatores que tĂȘm atrasado o progresso da polĂ­tica ambiental no paĂ­s. Com sua vasta dimensĂŁo territorial, populacional e econĂŽmica, o Brasil se posiciona naturalmente como um interlocutor-chave nas grandes questĂ”es ambientais que desafiam a humanidade (Balbino, 2023).

 

O meio ambiente passou a integrar as discussÔes transnacionais quando eventos climåticos extremos deixaram de ser vistos como meros fenÎmenos naturais. A preservação ambiental ganhou destaque devido a catåstrofes, à perda significativa de flora e fauna, e às previsÔes de prejuízos imensuråveis. No entanto, apesar desses fatores alarmantes, muitos países permanecem resistentes a uma mudança de abordagem em direção a soluçÔes sustentåveis (Tassara, 2018). Isso se deve, em grande parte, ao fato de que muitas açÔes prejudiciais ao meio ambiente tendem a ser altamente lucrativas, especialmente no que diz respeito ao desenvolvimento econÎmico e ao crescimento populacional dos estados. A tradicional visão de gerenciamento estatal, focada no crescimento a curto prazo, frequentemente coloca as consideraçÔes ambientais em segundo plano, criando um dilema entre a preservação do meio ambiente e a busca pelo progresso econÎmico (Tassara, 2018).

 

Nas conferĂȘncias e comissĂ”es internacionais dedicadas Ă s mudanças climĂĄticas, hĂĄ um esforço ostensivo para formular soluçÔes eficazes que atribuam aos paĂ­ses deveres e responsabilidades, alĂ©m de criar um espaço para debater estratĂ©gias para enfrentar os desafios futuros. No entanto, nos bastidores desses encontros, os jogos de interesse predominam, resultando em resoluçÔes que muitas vezes nĂŁo conduzem a avanços significativos. Nesse contexto, o Brasil ocupa uma posição de destaque, nĂŁo apenas pela forma como foi inserido nessas discussĂ”es, mas tambĂ©m pela maneira como tem historicamente atuado. As pautas de desenvolvimento, educação e preservação ambiental sĂŁo ĂĄreas nas quais o Brasil possui um domĂ­nio reconhecido, o que torna sua voz essencial nas negociaçÔes internacionais. A participação brasileira Ă© vista como crucial para o alcance das metas prĂ©-estabelecidas, tanto por sua capacidade de influenciar debates quanto por seu papel como um dos maiores detentores de biodiversidade e recursos naturais do mundo (Nascimento, 2011).

 

Contudo, essa posição de destaque tambĂ©m traz desafios, exigindo que o paĂ­s equilibre suas necessidades internas de desenvolvimento socioeconĂŽmico com as demandas externas por sustentabilidade e preservação ambiental (Bezerra, 2013). Assim, o Brasil nĂŁo apenas participa, mas se vĂȘ na responsabilidade de liderar discussĂ”es que moldam o futuro das polĂ­ticas ambientais globais, sendo muitas vezes um dos paĂ­ses cujas açÔes sĂŁo fundamentais para o sucesso ou fracasso das metas climĂĄticas internacionais.

Assim, o cenĂĄrio atual reflete a tentativa de diversos paĂ­ses de estabelecer uma “nova ordem internacional”, colocando a preservação ambiental como um dos temas centrais. Nessa realidade, os paĂ­ses do norte global se encontram em uma espĂ©cie de corrida pela sustentabilidade, perpetuando, no entanto, o mesmo ciclo exploratĂłrio de sempre, agora sob o rĂłtulo de capitalismo verde. Apesar de tentarem projetar uma imagem de ação coletiva, os planos internacionais desde o inĂ­cio das discussĂ”es sobre o tema falham em formular negociaçÔes verdadeiramente igualitĂĄrias. Isso ocorre porque um nĂșmero significativo de paĂ­ses enfrenta limitaçÔes tanto em suas capacidades de atuação quanto em suas possibilidades, em decorrĂȘncia de desafios tanto atuais quanto histĂłricos (Tassara, 2018). Dessa forma, o foco retorna aos paĂ­ses que, por nĂŁo conseguirem contribuir para essa transição sustentĂĄvel, sĂŁo vistos como negligentes em relação Ă s mudanças climĂĄticas. O problema nĂŁo reside no fato de nĂŁo se sentirem compelidos a adotar uma “mudança de abordagem”, mas sim na falta de condiçÔes e meios para desempenhar esse papel, apesar de suas necessidades de desenvolvimento socioeconĂŽmico e infraestrutural.

 

Assim, a solução dos problemas ambientais, sendo um dos itens mais relevantes da agenda internacional, exigirĂĄ uma dinĂąmica de cooperação internacional muito mais efetiva do que a praticada nos dias de hoje. Com efeito, o Brasil lidaria muito melhor com os constrangimentos internacionais se adotasse posição de lĂ­der global de um processo de cooperação, assumindo plenamente a sua condição de potĂȘncia ambiental singularidade oriunda de sua economia de baixo carbono, de suas reservas incomparĂĄveis de ĂĄgua doce, de sua biodiversidade e de suas terras agricultĂĄveis (Nascimento, 2011, pp. 39)

 

O Brasil nĂŁo apenas tem uma capacidade de diĂĄlogo com uma ampla gama de influĂȘncias, mas tambĂ©m possui uma longa histĂłria na pauta ambiental. No entanto, o paĂ­s sĂł começou a se envolver mais profundamente nas questĂ”es de preservação da biodiversidade por volta do sĂ©culo XX. Desde os primĂłrdios da nação, os interesses relacionados Ă  flora local estavam mais ligados a questĂ”es de segurança e soberania, com a preservação ambiental raramente sendo prioridade. Em vez disso, o meio ambiente foi historicamente visto como uma ferramenta para ganhos econĂŽmicos, refletindo uma visĂŁo onde a exploração dos recursos naturais era central para o desenvolvimento do paĂ­s (Tassara, 2018).

 

Os impactos da ação humana sobre o meio ambiente, trazem como consequĂȘncia o comprometimento da qualidade de vida, configurando um problema de Ăąmbito global que gera preocupaçÔes cada vez maiores e envolve todas as esferas da sociedade. A questĂŁo ambiental tem ganhado mais importĂąncia nas Ășltimas dĂ©cadas, tendo se tornado historicamente relevante a partir do sĂ©culo XX, quando a humanidade tomou consciĂȘncia de que a vida no planeta depende de um equilĂ­brio ecolĂłgico. A sociedade industrial moderna interfere nesse equilĂ­brio ambiental, comprometendo os recursos naturais que sĂŁo necessĂĄrios para a vida. (SANTOS, 2016, p. 51).

 

O Brasil conta com polĂ­ticas externas ambientais, mas essas sĂŁo, em grande parte, fundamentadas em abordagens tradicionalistas que carecem de atualização e reforma. Com a formação de uma nova ordem internacional, paĂ­ses que nĂŁo dispĂ”em de uma polĂ­tica ambiental externa robusta e bem estruturada enfrentarĂŁo desafios crescentes e precisarĂŁo, urgentemente, desenvolver suas capacidades nessa ĂĄrea (Santos, 2016). A participação ativa em fĂłruns internacionais e a cooperação multilateral estĂŁo se tornando cada vez mais cruciais, nĂŁo apenas para a construção de novas polĂ­ticas e mecanismos de negociação, mas tambĂ©m para garantir que vozes essenciais sejam ouvidas e integradas nas decisĂ”es globais (Tassara, 2018). Em um cenĂĄrio onde a sustentabilidade e a preservação ambiental sĂŁo questĂ”es centrais, a habilidade de um paĂ­s em articular e implementar polĂ­ticas ambientais inovadoras serĂĄ determinante para seu posicionamento e influĂȘncia no cenĂĄrio internacional. Portanto, para o Brasil, a modernização de suas polĂ­ticas externas ambientais Ă© fundamental para que possa desempenhar um papel de liderança e participar efetivamente das decisĂ”es que moldarĂŁo o futuro do planeta.

 

ReferĂȘncias


NASCIMENTO, Paulo Roberto Laraburu. O meio ambiente e os fundamentos orientadores da política externa ambiental brasileira. 2011. Disponível em: https://www.bdm.unb.br/bitstream/10483/2000/1/2011_PauloRobertoLaraburuNascimento.pdf.  Acesso em: 20 de julho de 2024.

 

Balbino, Viviane Rios. Sobre diplomacia. Sapientia, edição 45. 2023.Disponível em: https://www.cursosapientia.com.br/conteudo/revista-sapientia/ler/edicao-45. Acesso em: 20 de julho de 2024.

 

Tassara, Leandro Lima. A PolĂ­tica Externa Ambiental Brasileira no Contexto das ConferĂȘncias da ONU: Continuidades e Avanços. 2018.  DisponĂ­vel em: https://repositorio.ufu.br/bitstream/123456789/22287/1/Pol%c3%adticaExternaAmbiental.pdf. Acesso em: 20 de julho de 2024.

 

VIOLA. Eduardo. O regime Internacional de Mudança ClimĂĄtica e o Brasil. Revista Brasileira de CiĂȘncias Sociais, Vol. 17, n.50, p. 25-46. out. 2002

 

SANTOS, JoĂŁo VinĂ­cius dos. ConferĂȘncias de Desenvolvimento SustentĂĄvel: de Estocolmo Ă  COP 20 e o Papel do Brasil.Rev. EletrĂŽnica de Direito Internacional, Ed. Esp. Meio Ambiente, ISSN 1981-9439, vol.18, 2016, p.50-75.

 

BEZERRA, Joana Carlos. O papel do meio ambiente na política externa brasileira. 2013. Disponível em: https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/ideias/article/view/8649401/15956. Acesso em: 19 ago. 2024.

 

 

 

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