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Newsletter #9

Confira os destaques de nossa equipe na última quinzena:


1) Lago no Canadá pode comprovar o início do Antropoceno


O lago Crawford, em Ontario, no Canadá, pode ser uma das evidências de que a Terra teria entrado em uma nova era geológica, passando do Holoceno para o Antropoceno e evidenciando o impacto humano sobre o planeta. Isso porque os sedimentos presentes na lama do lago capturaram resíduos da intensa queima de combustíveis fósseis e até mesmo o plutônio de testes de bombas nucleares.


Muito próximo ao lago está a maior cidade industrial canadense, Hamilton, onde as siderúrgicas operaram durante a maior parte do século 20 e até os dias atuais. Segundo o secretário do Grupo de Trabalho do Antropoceno (AWG) em matéria da BBC, as camadas de sedimentos que se depositaram anualmente no fundo do lago registram produtos de combustão de combustíveis fósseis, plutônio, mudanças na geoquímica, mudanças na microecologia – todos os tipos de coisas que mapeiam a mudança ambiental.


A AWG tem focalizado estudos na última década para tentar estabelecer o início do "Antropoceno" e, a partir dos dados descobertos com o Lago Crawford, a entidade está convencida de que uma data de início formal poderia ser identificada com a década de 1950 no período da chamada "grande aceleração" quando a população humana e seus padrões de consumo aceleraram repentinamente e surgiu a disseminação de "materiais tecnológicos" onipresentes, como alumínio, concreto e plástico. Através da lama do lago Crawford, os cientistas são capazes de detectar a aceleração do consumo dessas substâncias, ano após ano.


Outro fator chave é a presença de plutônio que evidencia o uso de materiais radioativos pela humanidade. Segundo afirmação do professor Andrew Cundy para a BBC: "Vemos plutônio em sedimentos e outros materiais de cerca de 1945 em diante, relacionados ao programa de testes de armas atômicas. Mas realmente o ponto em que a deposição de plutônio se tornou global foi após testes de bombas termonucleares de alto rendimento, começando em 1952".


O AWG ainda quer escolher um ano específico para o início da Época do Antropoceno, e os testes que estão sendo realizados influenciarão essa decisão.


Fonte: BBC News. Confira também a matéria da DW e do Estadão sobre o caso


2) Altas temperaturas continuam a superar recordes e causam desastres por todo o globo



14 dias consecutivos no mês de Julho de 2023 (03/07 a 17/07) superaram os recordes históricos de temperatura. James Hansen, cientista que soou o alarme sobre o aquecimento climático, já na década de 80, alerta que se as temperaturas globais subirem mais 1ºC ou mais, o planeta ficará em uma média de calor vista na época do Plioceno (cerca de 1 a 3 milhões de anos atrás). É amplamente previsto que a temperatura aumentará mais de 1ºC até o final do século, com diagnósticos mais pessimistas apontando que esse ritmo será mais acelerado se a atual tendência de quebra de recordes continuar.



Na Europa, as altas temperaturas têm causado diversas mortes e incêndios. Chamado de verão “Cerberus”, diversas nações europeias tem registrado ondas de calor e todo o hemisfério Norte está em alerta. Diante dos recordes de temperaturas no verão do hemisfério-norte, Petteri Taalas, secretário-geral da Organização Mundial de Meteorologia, descreveu a situação como “novo normal”. Fonte: Jornal Nexo. Confira também matéria da DW sobre porque o calor na Europa tem causado tantas mortes.


Neste último fim de semana, a Grécia enfrentou a maior evacuação de sua história em razão dos graves incêndios que já duram uma semana. Foram registrados 46 novos incêndios em apenas 24 horas e cerca de 30 mil pessoas tiveram que deixar suas casas e hotéis na ilha de Rodes. Confira.


Na América do Norte, o Canadá ainda sofre com os incêndios florestais que já registravam recordes sem precedentes semanas atrás. Fonte


Nos Estados Unidos, certas regiões chegaram a registrar uma medição superior a 50ºC. Até mesmo turistas foram atraídos para o “Vale da Morte” na Califórnia, para sentir a temperatura extrema de 51ºC. Fonte


Na Ásia, algumas nações vivenciaram épocas de monções de verão com insolação e tempestades. Coreia do Sul e Japão estão sofrendo com tempestades que vitimaram dezenas de pessoas, enquanto a China emitiu alerta de recordes de temperatura para algumas de suas regiões.


No Brasil, o inverno no sul foi marcado nesta última semana por um choque térmico, pois as temperaturas variaram de -5°C a 30°C em apenas 3 dias. Fonte: Metsul:


O mundo já aqueceu cerca de 1,2°C desde a industrialização em massa, causando 20% de chance de ter o tipo de temperaturas extremas de verão atualmente vistas em muitas partes do hemisfério norte, acima de 1% de chance 50 anos atrás, aponta James Hansen. Confira a matéria completa do The Guardian.


Esses novos recordes de temperaturas em diversas partes do mundo (que atingem não só o verão no hemisfério Norte, mas também o inverno do hemisfério Sul) são mais uma das diversas evidências de que estamos vivendo uma emergência climática e que nosso tempo para reverter os níveis de emissão de gases poluentes e frear o aquecimento global está terminando.


Os fatos dessa semana nos parecem evidências suficientes para que deixemos o senso comum de que a emergência climática é um problema futuro.


Ainda sobre o tema do superaquecimento, confira as matérias do New York Times sobre "Extreme Heat Will Change Us" e do G1 sobre os recordes de temperaturas no Hemisfério Norte.


3) Moradores afetados denunciam que acordo firmado pela Braskem com Maceió em R$ 1,7 não contempla os danos sofridos pelas famílias


A Braskem firmou acordo com Maceió para indenizar a cidade pelos danos causados pelas atividades da empresa em cinco bairros do município em razão do afundamento do solo. Segundo matéria da CNN Brasil, a prefeitura de Maceió afirmou que os recursos serão destinados à realização de obras estruturantes na cidade e à criação do Fundo de Amparo aos Moradores (FAM). Fonte: CNN Brasil


Os moradores afetados pelas atividades da Braskem, contudo, afirmam que o acordo não é suficiente para cobrir os danos causados às famílias atingidas, pois a região que registrou o afundamento do solo estaria em condições de completo abandono pelo Poder Público. Confira matéria da Mídia Ninja sobre o caso e depoimento dos moradores.


O Ruptura abordou o caso em publicação deste ano que você pode conferir em nosso site.


4) Estudo aponta que diminuir o consumo de carne equivale a tirar 8 milhões de veículos de circulação


Um estudo da Universidade de Oxford aponta que uma forte redução no consumo de carne pode diminuir exponencialmente a emissão de gases estufas. A pesquisa se baseou em medições de diversos tipos de dieta e do impacto ambiental necessário para gerar os produtos analisados. Os resultados apontam que só no Reino Unido, uma redução drástica equivaleria a neutralizar a emissão equivalente a 8 milhões de carros.


Na última semana, o Ruptura chamou atenção para o fato de que, no Brasil, o setor que possui o impacto mais significativo na emissão de gases do efeito estufa é a agropecuária. Confira aqui


Destacamos também nesta semana a matéria de "O Joio e o Trigo" a respeito do que acontece quando uma cidade vive em função de apenas um setor econômico: o caso de Chapecó (SC) e das agroindústrias. Confira.


No que diz respeito ao tema da emissão de gases poluentes pelo setor do transporte, vale a pena destacar matéria da BBC Brasil sobre o plano chinês de exportar "transito silencioso" com a fabricação de carros elétricos no Brasil. Confira.



5) Sexto município brasileiro reconhece direitos da Natureza


Na última semana, o Município de Cárceres, no Mato Grosso, tornou-se o 6° município brasileiro e o 1° na região do Pantanal a realizar o reconhecimento de Direitos da Natureza através do projeto de emenda à lei orgânica 03/23 votado na segunda-feira 17/07.


Segundo matéria da própria Câmara de Vereadores de Cárceres, "O vereador Cézare Pastorello (PT), autor da proposta, explicou que, por se tratar de uma emenda à Lei Orgânica, ela passa a vigorar de imediato, sem a necessidade de sanção da prefeita Eliene Liberato. [...] Destacou que a Natureza como titular de direitos desencadeia toda uma revisão das legislações que tenham referência ao meio ambiente. "Inclusive, uma revisita ao próprio Código Ambiental, recentemente aprovado [pela Câmara Municipal]"". Fonte


Fazem poucas semanas o Ruptura havia noticiado o reconhecimento de direitos da Natureza pelo município de Guajará Mirim em Rondônia. Nota-se que o movimento vem se expandido cada vez mais pelos municípios brasileiros. Confira.


6) Uso de agrotóxicos no MT causa morte de mais de 100 milhões de abelhas


Enquanto o município de Cárceres, no Mato Grosso, realizou nesta semana o reconhecimento de direitos da Natureza, a cidade de Sorriso, no mesmo estado - e também região altamente dependente do chamado agronegócio - registrou a morte de mais de 100 milhões de abelhas devido ao uso indevido do agrotóxico Fipronil por meio de aviões em uma fazenda de algodão na região, modalidade proibida para aplicação dessa substância. Como consequência, os apicultores da região de Sorriso, Sinop e Ipiranga do Norte observaram a morte instantânea de 600 caixas de suas colmeias (cada caixa com uma população entre 170 a 220 mil abelhas). Após realização de perícia, laudo constatou que a morte das abelhas foi provocada pelo agrotóxico Fipronil. Fonte: Folha de São Paulo.


O agronegócio é o principal responsável pelo indevido uso da terra e desmatamentos no Centro-Oeste e Norte brasileiros, como bem evidenciam os índices de emissão de gases poluentes acima citados. Como contraponto, as regiões que permanecem sob a proteção dos povos originários mantém a biodiversidade e o equilíbrio ecológico. Nesse sentido destacamos post da página @geopanoramas:



7) Estudo da UFMT comprova relação entre agronegócio e câncer


Também na última semana, destacamos pesquisa da UFMT que demonstra a relação do agronegócio e do uso de agrotóxicos com câncer no Mato Grosso. Confira a matéria da Mídia Ninja sobre o tema.


O Ruptura possui extensa produção a respeito desse tema em nosso eixo "sociobiodiversidade". Confira nossas publicações e nossa biblioteca para aprofundamentos.


8) O filme Barbie e os impactos ambientais da indústria de brinquedos


Na última semana foi realizado lançamento do filme Barbie que tem sido apreciado por sua postura crítica em aspectos de gênero e crítica ao patriarcado. Para além dessas questões, um aspecto que merece atenção é o debate que o filme parece não fazer: os impactos ambientais da indústria de brinquedos.


Sobre o tema destacamos matéria do @earthrise.studio que questiona se o frenesi coletivo com o filme Barbie vai incentivar a poluição plástica no planeta, já que "Life in plastic is fantastic" no mundo Barbie.

Ainda segundo a @earthrise.studio, a fabricante das bonecas Barbie, Mattel, vende anualmente 60 milhões de Barbies com uma taxa de emissão de carbono equivalente a queima de 1.7 bilhão de litros de gasolina. A página também ressalta que a indústria de brinquedos é a maior em termos de bens plásticos de consumo no mundo e que esses objetos raramente são reciclados.


Na sugestão da última sexta, o documentário Owned and Operated aponta como a publicidade passou no século XX a ser direcionada às crianças como forma de manipulação dos país e impulso ao consumo de brinquedos, dentre eles as Barbies. Confira.


9) União Europeia (UE) passa legislação de restauração da natureza


Em votação apertada, uma legislação que obriga as nações europeias a restaurarem até 20% dos habitats naturais em suas fronteiras (seja no mar ou na terra), foi aprovada com 336 votos a favor, 300 contra e 13 abstenções. A legislação sofreu forte resistência de fazendeiros e interesses agropecuários que argumentaram que seria impossível trazer segurança alimentar com as novas exigências da legislação.


Por outro lado, ativistas e cientistas ambientais afirmaram que a restauração da biodiversidade seria a principal causa da segurança alimentar no continente, confrontando o risco da extinção em massa de espécies de plantas e animais, bem como as consequências da mudança climática.




10) Os interesses chineses por recursos naturais e o "buraco do inferno"

Engenheiros chineses estão colocando em prática um ambicioso projeto para cavar um poço que pode chegar mais de 10.000 metros para baixo da superfície da terra. Esse será o segundo poço de grande profundidade que atualmente está sendo cavado pela China.


O intuito do governo chinês é aprender mais sobre a formação das camadas do planeta e, sobretudo, utilizar-se dos recursos naturais enterrados em suas profundezas. Não olhe para baixo…


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