O texto de hoje faz parte da série "A dialética do Agro" e focaliza as consequências diretas e indiretas do Agronegócio sobre a vida, abordando a morte em suas formas subjetiva, objetiva e absoluta, introduzindo o conceito de “Agromorte”. Confira também o primeiro texto da série: "O Agro é Guerra".
Para além da exploração do ser humano pelo ser humano através do trabalho, o filósofo alemão Karl Marx abordou em sua obra a exploração da natureza como meio para esgotamento do solo e o rompimento do metabolismo entre o ser humano e a terra. Posteriormente esse conceito foi chamado de “falha metabólica” ou “ruptura metabólica”[1], muito antes do termo “consciência ecológica” fazer parte das preocupações da burguesia.
Nesse sentido, a recente experiência com a pandemia de Covid-19 é um poderoso exemplo a ser tratado aqui. A Covid-19 que infectou mais de 0,69 bilhão de pessoas, e o número de óbitos superou os 6,9 milhões[2]. Muitas são as controvérsias acerca da origem do Sars-COV-2, vírus causador da doença, entretanto sua genética demonstra ser um rearranjo do coronavírus de morcego com uma cepa de Pangolim. Um vírus que, posteriormente, encontrou sintonia no sistema imunológico dos seres humanos. Não há explicação plausível para o salto do vírus entre essas espécies - tampouco por espécies intermediárias, a exemplo da conhecida gripe suína, que transitou dos porcos para os humanos -, se a agropecuária for desconsiderada[3].
Florestas têm como uma de suas principais funções interromper a transmissão de vírus mortais. O círculo regional de produção, que parte das florestas periurbanas[4] para as cidades se reproduz no mundo inteiro. Essa estrutura mais ampliada permite uma melhor análise e compreensão da grande maioria dos surtos ocorridos por quase todo o planeta, onde todos têm origem ou reemergem em locais pertencentes a esses círculos produtivos em expansão. Boa parte dessas ecologias são resultados de imposições do modelo capitalista. É o contexto agroeconômico que desenvolve boa parte dos patógenos[5].
Os impactos do Agronegócio estendem-se muito além das fronteiras de suas fazendas e plantações. A exploração da terra e a ruptura do equilíbrio ecológico, em última análise, reverberam em crises sanitárias globais, como evidenciado pela pandemia da Covid-19. Este é apenas um dos múltiplos retratos da morte associada ao setor. Nos próximos subtópicos, exploraremos mais a fundo a complexa relação entre o Agronegócio e as diferentes dimensões da morte - subjetiva, objetiva e absoluta.
3.1 Agronegócios x Natureza: a síntese da morte e da devastação ambiental
Abordamos de forma detalhada, no tópico anterior, as relações dos agrotóxicos com táticas de guerra, como agentes causadores de morte, sob a tutela e responsabilidade do Agronegócio. Há mais de 3 mil anos, escritos ocidentais e orientais (gregos, romanos e chineses) fazem referência ao uso de alguns produtos químicos em práticas de controle de insetos, como arsênico e enxofre, já conhecidos séculos antes da contemporaneidade. Entretanto, sua prática como controle significativo de insetos e pragas[6] começou no século XIX, durante a Revolução Industrial, consolidando-se entre o final da primeira metade do século XX e a Contrarrevolução Verde[7].
A falácia da campanha publicitária “Agro: a Indústria-Riqueza do Brasil”, veiculada pela Rede Globo sob a pecha mentirosa e manipuladora “o Agro é tech, o Agro é pop, o Agro é tudo”, contribui cotidianamente na constituição do Agrobiz enquanto ideologia do campo no Brasil. Uma ideologia que propaga o mito do sistema ideal e insubstituível, que esconde suas verdadeiras relações de produção, como afeta e como é afetado em sua dinâmica[8].
Para além dos agrotóxicos, a fim de compreender melhor as práticas e consequências do Agrobiz na sociedade e derrubar os referidos mitos, analisemos dialeticamente a relação Agro e Morte. As múltiplas faces pelas quais essa relação se apresenta, como elemento indissociável do latifúndio, reiteram a verdadeira expressão do Agronegócio. Uma verdadeira síntese de destruição e devastação.
Antes de avançarmos, uma rápida delimitação teórica torna-se necessária nesse momento. Filosófica e sociologicamente, as categorias objetividade e subjetividade têm conceitos muito amplos e complexos, e variam de acordo com os autores e suas teorias acerca do tema. Partiremos das concepções de Marx[9] e, para simplificar a abordagem, utilizaremos essas categorias em um sentido mais direto, partindo do pressuposto que objetivo é aquilo que ocorre de forma imediata, afetando diretamente seu objeto, e subjetivo é aquilo que acontece de forma indireta, enquanto consequência posterior de algo que ocorreu objetivamente no passado.
3.1.1 O Agro e a morte subjetiva
Incontáveis pesquisas e artigos, além de livros e pequenas publicações, abordam intoxicações por agrotóxicos no Brasil. Trazem à baila a dimensão dos efeitos colaterais do uso dos produtos químicos, proibidos em muitos países, mas de livre circulação e comercialização nos solos brasileiros. De acordo com a profa. Larissa Bombardi, levando em consideração apenas o período de 2007 a 2014, destacam-se notificações de casos de intoxicação no Centro-Sul do país, a exemplo do Paraná, que ultrapassa a marca de 3700 ocorrências. Os estados de Minas Gerais e São Paulo rompem a marca de 2000 casos notificados. O total de casos notificados no país supera 25 mil intoxicações por agrotóxicos. Considerando o período avaliado, chegamos a uma média superior a 3.125 casos anuais e 8 diários[10].
Segundo Bochner[11], lidamos com uma ordem de subnotificação bastante elevada, uma vez que os casos mencionados são de intoxicações agudas, na qual as pessoas afetadas buscaram ajuda no sistema de saúde. Com efeito, sobe potencialmente a gravidade dos números apresentados. Exposições crônicas são mais difíceis de contabilizar e geralmente ficam de fora da análise.
Contaminações por agrotóxicos chegam aos cidadãos através da água potável e da chuva, e até pelo leite materno, dado seu caráter bioacumulativo[12]. Nos municípios do estado de Mato Grosso, onde há uso intenso de agrotóxicos nas práticas do Agronegócio, existem dados estatísticos significativos que relacionam a exposição a esses venenos desde o nascimento e os casos de morbidade e mortalidade em menores de 20 anos causados por câncer[13].
Conforme já vimos no tópico anterior, no que se refere à pandemia de Covid-19, não podemos encontrar explicações sobre o salto do vírus do pangolim para os seres humanos sem considerar as práticas do Agronegócio. Segundo Wallace:
Se o agronegócio multinacional pode definir a geografia da produção para obter enormes lucros, independentemente dos surtos que possam ocorrer, quem paga os custos? Via de regra, os custos das fazendas industriais são externalizados. [...] o Estado há muito é forçado a pagar pelos problemas causados por essas fazendas; entre eles, problemas de saúde para seus trabalhadores, poluição lançada em terras vizinhas, intoxicação alimentar e danos à infraestrutura de transportes. Uma fenda em uma lagoa de aves de criação, que despeja toneladas de fezes em um afluente do Rio Cape Fear, causando morte massiva de peixes, passa a ser um problema para os governos locais. [...] Até os apelos em favor da preservação da ganância global são insuficientes. Junto com a vida de um bilhão de pessoas, o establishment parece disposto a apostar grande parte da produtividade econômica do mundo, que sofrerá de forma catastrófica se ocorrer uma pandemia mais grave. A miopia criminalmente negligente e politicamente protegida sempre é capaz de pagar, até que não seja mais. Então, alguém leva a conta para casa.[14]
Só no Brasil, no momento da escrita deste artigo, superou-se a marca de 705 mil mortes causadas pela Covid-19. No mundo, os óbitos são superiores a 6.9 milhões de pessoas[15]. O Agrobiz é o responsável e o causador de milhões de mortes indiretas no mundo.
Não para por aí. Para além dos assassinatos indiretos, um espectro de devastação do meio ambiente traduz-se em: morte da biodiversidade, desertificação, envenenamento do solo e da água. Consequentemente, eventos como crises hídricas[16] e climáticas são resultado desse modelo de produção devastador, que vem conduzindo a sexta extinção em massa da biodiversidade[17].
Em 2020, o desmatamento da Amazônia foi 176% superior ao compromisso firmado juridicamente, e mesmo com acionamento do Superior Tribunal Federal para que as metas fossem cumpridas em 2021, o índice permaneceu subindo[18]. No mesmo ano, houve o encerramento da década da biodiversidade (2011-2020), na qual deveriam ser atingidas 20 metas adotadas pela Convenção das Nações Unidas sobre a Diversidade Biológica (CDB)[19]. Resultados desoladores, apesar de avanços importantes em algumas áreas, seguem mantendo várias espécies sob o risco de extinção, incluindo a espécie humana[20].
Um estudo publicado na revista Nature[21], em setembro de 2021, demonstra que o Brasil é o país com maior número de espécies de árvores ameaçadas de extinção, onde incêndios e desmatamentos destruíram uma parte significativa e vital do habitat de cerca de 85% dessas espécies.
A morte subjetiva do Agro é a expressão da morte indireta de pessoas, da fauna e da flora mundiais. Mortes causadas pelos agronegócios, que perpassam práticas de grilagem, extração ilegal de madeira, agropecuária extensiva, monoculturas, participações influentes no garimpo e associações diretas com o tráfico de drogas[22].
3.1.2 O Agro e a morte objetiva
A morte não se faz presente apenas subjetivamente quando o assunto é Agronegócio. Suas práticas não apenas terminam em morte, como dependem dela para existir. Na contramão das práticas tradicionais[23], uma das atividades do Agrobiz inicia-se através da grilagem de imensuráveis extensões de terras. O fogo é um de seus principais aliados, com uma dupla atuação: encobrindo invasões de terras públicas e os desmatamentos ilegais, ao mesmo tempo finaliza o processo de desmatamento, criando as condições para que a área esteja a serviço das monoculturas à base de veneno e fertilizantes, ou pastagens para a agropecuária extensiva[24].
Na mesma toada dos agrotóxicos, as queimadas também são utilizadas como armas para expulsar, através do extermínio, povos originários e comunidades tradicionais (quilombolas, indígenas e camponeses). O uso do fogo como instrumento de controle territorial. Segundo Aguiar e Torres, “entre 1985 e 2019, período que coincide com a emergência e consolidação da economia do agronegócio, 90% do desmatamento [...] ocorreu para a abertura de área de pastagens e monocultivos e 10% para outros usos”, e o uso criminoso do fogo pela cadeia do agronegócio tem como objetivo o desmatamento e limpeza para fins das suas ocupações[25].
No início do mês de junho do ano passado, houve comoção mundial com os assassinatos do indigenista Bruno Pereira e do jornalista inglês Dom Phillips. Um duplo homicídio onde as vítimas foram esquartejadas e incineradas. Provavelmente nunca será realmente desvendado, dados os limites impostos pela classe dominante em direção à verdade. A solução encontrada pela Polícia Federal foi tão rápida à época, que há quem desconfie já ser conhecida desde a data dos seus desaparecimentos. Desdobramentos mais recentes seguem a mesma falta de clareza[26].
Relações de produção protegidas por instituições a serviço da burguesia propagam livremente suas políticas de morte, amparadas pela certeza da impunidade, ainda que diversos elementos contrariem as versões oficiais apresentadas. Relatórios da Univaja[27], por exemplo, denunciam atuações de grupos criminosos (com conhecimento das autoridades) envolvidos em caça e pesca ilegais, práticas diretamente ligadas ao Agronegócio. Em depoimento na audiência pública das comissões de Direitos Humanos e Temporária sobre a Criminalidade na Região Norte, o advogado da Univaja, Eliesio Marubo, registrou duras palavras embaladas no medo e insegurança imanentes às suas atividades:
Que país é esse que nós estamos vivendo, excelências? Quantos mais Brunos e quantos mais Doms têm que morrer? É público e notório que a diretoria da Univaja toda está marcada com a mesma marca que Bruno e o Dom. Temos que andar com segurança, temos que andar com carro blindado. Isso não é vida, nós não estamos em um país em guerra[28].
Em coletiva, no dia seguinte, Eliesio denunciou a inércia e descaso do governo Bolsonaro e da Funai: “Nem de Funai, nem de qualquer ministério, nem de ninguém do Poder Executivo. Tivemos só [reuniões] com o Judiciário e o Legislativo”[29]. Três dias após a audiência, e 20 dias após o desaparecimento de Bruno e Dom, uma ação repressiva da PM de Mato Grosso do Sul finalizava, com três tiros, a vida do indígena Vitor Fernandes, aos 42 anos de idade. Segundo nota publicada por uma das principais entidades representativas dos Guarani Kaiowá, a Aty Guasu, “são dois mortos, podendo ser maior o número (a comunidade fala em pelo menos quatro), e ao menos 10 feridos”. A ação foi capitaneada pela PM/MS e por pistoleiros contratados por fazendeiros. A motivação foi o despejo ilegal de terras previamente reconhecidas como pertencentes aos povos originários, que estão ali desde o início do século passado, e foram invadidas pelo Agronegócio, procedendo sem autorização judicial[30].
No caso, as instituições estatais estavam do lado do Agrobiz, o invasor. Entre o desaparecimento de Bruno e Dom e o massacre estatal dos Guarani Kaiowá, era assassinado com um tiro pelas costas Wesley da Silva, 37 anos, liderança camponesa em Rondônia, presidente da associação rural Nova Esperança. Há suspeitas de ligação do crime com o ex-senador e grileiro Ernandes Amorim[31].
Em de janeiro de 2022, na cidade de Belém do Pará, o ambientalista José Gomes, conhecido como Zé do Lago, 61 anos, foi encontrado morto junto à esposa de 37 anos, e sua filha de 17 anos, assassinados a tiros de pistola. Crime segue até hoje sem prisões ou suspeitos, com procedimentos de autópsia e exumação de corpos conduzidos fora da normalidade. Um caso repleto de desconfiança e equívocos, questionados pela Comissão de Direitos Humanos da OAB-PA, sem respostas ou quaisquer esclarecimentos. A única informação conhecida é que foram execuções sumárias encomendadas e que em quatro décadas foram assassinados 62 trabalhadores e lideranças rurais em conflitos por posse de terras no município. A taxa de impunidade é de 100%, uma vez que nenhum responsável por esses crimes foi a julgamento[32].
Juntam-se a Bruno, Dom, Zé do Lago e Vitor nomes como Chico Mendes, Dorothy Stang e inúmeros indigenistas e ambientalistas, que fazem do Brasil um dos países que mais matam em conflitos no campo[33]. Crimes com conclusões duvidosas, contraditórias e insuficientes, que fortalecem o Agronegócio e seus pares em detrimento da paz, da saúde e do direito à vida no Brasil. Para além disso, transformam os protagonistas da luta de resistência em meros objetos do capital.
A morte objetiva do Agro não se limita às queimadas e desmatamentos. É uma manifestação de uma cultura de impunidade, de uma rede intricada de interesses econômicos e de um ciclo contínuo de violência. As vítimas, da terra aos ativistas, tornam-se sacrifícios no altar do progresso econômico, muitas vezes equivocadamente definido. No entanto, a verdadeira questão é: a que custo? Enquanto as consequências ecológicas são devastadoras, o preço humano, frequentemente esquecido, é incalculável. As histórias de Bruno, Dom, Zé do Lago e muitos outros são lembretes dolorosos de que o Agrobiz não pode ser dissociado das vidas que afeta, nem das vidas que, infeliz e impunemente, destrói.
3.1.3 O Agro e a morte absoluta: Agromorte
O resultado dessa relação entre subjetivo e objetivo chamaremos de absoluto[34], um olhar dialético de relações e processos infinitos, inter-relacionados e indissociáveis do Agronegócio, a dialética da Agromorte.
O Agrobiz é o principal responsável pela devastação ambiental, levando ao que chamamos de Agromorte, uma expressão que captura a onda de destruição - tanto ambiental quanto humana - associada às práticas do Agronegócio. Aniquilação de florestas, envenenamento das águas, dos solos, de animais, de mulheres, de homens e de crianças, um rastro de morte, direta e indiretamente, por onde quer que passe e se estabeleça.
Sua fidelidade aos “pacotes tecnológicos” proporciona uma intensificação da produção agrícola, muitas vezes à custa do meio ambiente e da saúde humana. Esta intensificação é ainda mais potencializada pela influência do capital financeiro[35], que busca maximizar os lucros a curto prazo. E, por fim, os grandes conglomerados de mídia, muitas vezes alinhados a esses interesses, ajudam a propagar um padrão de produção que, enquanto pode ser rentável financeiramente, é insustentável do ponto de vista ecológico e social.
Uma verdadeira supremacia ruralista. Cada vez mais poderosa politicamente, presente em todas as esferas políticas do país, propagando agrogolpes[36] e desestabilizando as estruturas econômicas e sociopolíticas do Brasil, escondida atrás do véu do pop, tech e tudo. Nesse sentido, é essencialmente a expressão pura da Agromorte.
Esta expressão, portanto, não é apenas uma consequência colateral das atividades do Agronegócio, mas uma característica intrínseca do seu funcionamento. Reconhecer essa relação é fundamental para entender as verdadeiras implicações do Agrobiz em nossa sociedade e meio ambiente. Além disso, a Agromorte não se limita apenas à devastação ambiental e social, mas também tem consequências profundas em relação à segurança alimentar no Brasil, como exploraremos no próximo texto da série que será publicado amanhã.
[1] Foster, 2023, p. 207-208. [2] ver em https://www.worldometers.info/coronavirus/. [3] Wallace, 2020, p.544. [4] Regiões que abrangem a periferia da cidade. [5] Ibid, p.545. [6] Partindo dos princípios agroecológicos, a antítese das práticas do agronegócio, o termo praga é considerado insuficiente. O termo mais apropriado é indicadores biológicos, uma vez que atuam como sinalizadores de desequilíbrios dos ecossistemas. Seus controles biológicos são feitos de forma natural, buscando compreender e identificar qual deficiência pode ter causado esse desequilíbrio. [7] Machado, 2014, p.92-95; Paschoal, 2014, p.83-84. [8] Santos; Silva; Maciel, 2019, p.58-59. [9] Os estudos filosóficos e sociológicos, na Europa do século XIX, partiam das concepções de Hegel e repousavam sobre aspectos do pensamento. À luz da importância do papel de transformação social que a consciência teria de exercer sob a realidade, na perspectiva de Bruno Bauer e como a consciência teria que se adequar à realidade, concebida por Ludwig Feuerbach. Marx suprassumiu essa dualidade mundo (subjetivo) vs natureza (objetiva) ao formular seu materialismo histórico e dialético, fazendo com que a filosofia, através da relação de subjetividade e objetividade, interviesse efetivamente na realidade (Chasin, 2009, p89-137). A dialética marxista permitia, finalmente, a objetivação do subjetivo, tornando os conceitos de universal e particular indissociáveis e imprescindíveis para uma melhor compreensão da realidade. Para um maior aprofundamento, ver A Ideologia Alemã, Primeira Parte (Marx; Engels; 2007, p.25-120). [10] Bombardi, 2017, p.125-163. [11] Bochner, 2007, p.83-85. [12] Carneiro, 2015, p.56-73. [13] Rosane Meinke Curvo; Antônio Pignati; Gislene Pignati, 2013. [14] Wallace, 2020, p.80. [15] ver https://www.worldometers.info/coronavirus/. [16] IEMA, 2021. [17] Cowie; Bouchet; Fontaine, 2022. [18] Potenza et al, 2021. [19] ver https://www.cbd.int/sp/. [20] Escobar, 2020. [21] How deregulation, drought and increasing fire impact Amazonian biodiversity, em tradução direta: Como a desregulamentação, a seca e o aumento do fogo impactam a biodiversidade amazônica (Feng et al, 2021). [22] Em matéria recente, foi descoberta a participação de pecuaristas na facilitação do transporte de cocaína boliviana, através de pistas clandestinas de pouso, construídas em terras de grilagem no Parque Nacional da Chapada das Mesas, no Maranhão. Ver em: https://piaui.folha.uol.com.br/quero-meter-dinheiro-e-no-agropo/. Outra matéria também atual denuncia a suspeita de laços entre empresários do Agrobiz e traficantes, em prática conhecida como “narcogarimpo”. Ver em: https://reporterbrasil.org.br/2023/09/trafico-e-garimpo-ilegal-compartilham-avioes-e-pilotos-para-lavar-dinheiro-na-amazonia/. [23] Há séculos, povos indígenas manejam o fogo com sabedoria, levando em consideração aspectos importantes como estação adequada, limites a pequenas porções de terra e o ciclo natural das agroflorestas. [24] Steward et al, 2021. [25] Aguiar; Torres, 2021. [26] ver em: https://agenciabrasil.ebc.com.br/direitos-humanos/noticia/2023-06/assassinato-de-bruno-e-dom-completa-um-ano-veja-linha-do-tempo. [27] ver reportagem do Brasil de Fato: “Relatórios da Univaja contrariam PF e revelam atuação de saqueadores profissionais no Javari” disponível em: https://www.brasildefato.com.br/2022/06/21/relatorios-da-univaja-contrariam-pf-e-revelam-atuacao-de-saqueadores-profissionais-no-javari. Outra reportagem publicada pela Agência Pública bastante relevante sobre o caso pode ser encontrada em https://apublica.org/2022/06/na-ultima-viagem-de-bruno-e-dom-nada-de-aventura. [28] ver em https://www.brasildefato.com.br/2022/06/22/univaja-em-audiencia-no-senado-quantos-brunos-e-quantos-doms-tem-que-morrer. [29] ver em https://www.brasildefato.com.br/2022/06/24/governo-de-jair-bolsonaro-ignora-dialogo-com-indigenas-do-vale-do-javari. [30] ver em https://www.brasildefato.com.br/2022/06/25/acao-da-pm-no-mato-grosso-do-sul-deixa-pelo-menos-um-indigena-morto-e-sete-feridos. [31] ver reportagem da CPT disponível em: https://cptnacional.org.br/publicacoes/noticias/conflitos-no-campo/6076-lideranca-camponesa-e-assassinada-em-rondonia. Recomendamos também, a leitura de outra reportagem da CPT sobre violência recente no campo, disponível em: https://www.cptnacional.org.br/publicacoes/noticias/conflitos-no-campo/6075-agricultor-e-atacado-com-tercado-nas-costas-em-assentamento-no-para. [32] ver https://www.cptnacional.org.br/publicacoes-2/destaque/5902-nota-publica-mais-um-massacre-no-campo-nao-pode-ficar-impune. [33] A Comissão Pastoral da Terra (CPT) faz um trabalho de levantamento estatístico dos conflitos no campo e os torna públicos. Os relatórios publicados pela CPT revelam a gravidade da situação do país nas questões agrárias e seus conflitos, e a inércia e conivência das instituições do Estado Burguês Brasileiro. Toda essa informação pode ser gratuitamente consultada em https://www.cptnacional.org.br. [34] “A ideia, como unidade da ideia subjetiva e da objetiva, é o conceito da ideia, para o qual a ideia como tal é o objeto; para o qual o objeto é ela: um objeto em que vieram reunir-se todas as determinações. Essa unidade é, pois, a verdade toda e absoluta, a ideia que se pensa a si mesma, e decerto aqui, enquanto ideia pensante, enquanto ideia lógica” (Hegel, 2012, §236, p.366). Em outra palavras, Hegel argumenta que a “ideia” é a unidade do subjetivo e do objetivo, representando a verdade completa. Isso significa que quando nos referimos ao “absoluto”, estamos falando de uma compreensão que engloba tanto os aspectos subjetivos quanto objetivos da realidade. [35] Assunção; Souza, 2020, p.1. [36] Santos; Silva; Maciel, 2019, p.3
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